A evolução da tecnologia nos traz inúmeras questões. Entre elas: como será o mercado de trabalho no futuro? Leia a seguir interpretações de especialistas sobre perfis e características que serão valorizadas e como se preparar para difíceis e constantes mudanças.
A tecnologia transformou nosso mundo, impactando diretamente no mercado de trabalho. Nos últimos anos, vimos dezenas de profissões surgirem e, se no panorama das crises econômicas observamos demandas por profissões relacionadas à tecnologia, acompanhamos também outras serem condenadas. Houve um tempo, não tão distante, em que era comum alguém ser telefonista. Hoje, o avanço da telefonia móvel fez com que grandes centrais telefônicas perdessem espaço, sendo gradualmente substituídas pelas digitais.
Segundo Arthur Schuler da Igreja, vice-presidente da Associação das Empresas Brasileiras de TI (Assespro) e assessor econômico da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), a tecnologia irá transformar o mercado de trabalho de duas maneiras: novos modelos de negócio e também nas relações entre organizações e pessoas. “O primeiro impacto refere-se à eliminação de intermediários nas cadeias de valor. O Uber elimina a necessidade de cooperativas de taxi na relação motorista-passageiro, por exemplo. Cada vez mais, demanda e oferta estarão integradas por plataformas. Isso reduzirá drasticamente a força de trabalho em organizações intermediárias. O segundo impacto está na conexão direta e temporária entre capacidades profissionais e demandas das organizações em substituição às relações formais de trabalho full-time. Será muito comum trabalhar por projetos para diferentes organizações em pequenas janelas de tempo. Em breve, a mão de obra mudará de custo fixo para variável”.
Na visão de Sonia Gurgel, sócia-proprietária da Soul RH Criativo e responsável pela área de desenvolvimento de novos serviços e produtos na Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH – BR), a tecnologia já vem modificando o mercado de trabalho há alguns anos de um modo imperceptível, se olharmos para o dia a dia de forma pontual. “Mas quando analisamos um período de tempo, por exemplo, os últimos 10 a 15 anos, podemos observar essas mudanças, cujas suas atribuições e perfis nem sabemos ainda definir precisamente. Além disso, a maioria dos postos de trabalho (se não todos) se transformaram, exigindo dos profissionais novas competências e formas de atuar”.
Ao lembrar a extinção de algumas profissões, Igreja ressalta que o exercício mais desafiador é prever quais continuarão a existir. Para ele, profissões que são excessivamente processuais e repetitivas tendem à automação via software ou robôs. “Mesmo advogados e médicos, profissões cerebrais por natureza, já experimentam este fenômeno em suas especialidades menos complexas com plataformas como o Watson, da IBM, capaz de aprender com inteligência artificial e replicar o processo decisório de especialistas. Costumo dizer que a profissão definida por uma estreita atuação profissional está muito ameaçada”.
Em contrapartida, algumas áreas irão se sobressair, quase todas elas ligadas à criatividade e ao emprego de conhecimento em contextos inexplorados. “O mesmo vale para pessoas com alta capacidade de adaptação. Recentemente, um estudo do World Economic Forum aponta que profissões com a combinação de habilidades sociais e matemáticas serão as do futuro. Atividades com baixa complexidade matemática podem ser facilmente transformadas em software e profissões que demandam apenas habilidades sociais, como atendentes, tendem a ter salários cada vez mais baixos. Arrisco que as profissões emergentes terão como maior característica serem indissociáveis da tecnologia, algo como cientista de dados de enfermagem”, aponta Igreja.
Rápido avanço e adaptação do mercado
Para o mercado de trabalho acompanhar a evolução da tecnologia ou para que esta não cause um problema ao primeiro, Sônia argumenta que há necessidade de estabelecimento de uma estratégia, o que dificilmente virá do setor público. “Mais uma vez, vejo que essa demanda recairá sobre as empresas privadas e instituições a elas ligadas que, para evitar a criação de um problema social maior do que o temos atualmente, terão que planejar o futuro do trabalho, visando à requalificação profissional e ao encaminhamento dos profissionais versus novas demandas e possibilidades”. Ela afirma que o futuro exigirá das empresas não somente a compra de novas tecnologias, mas principalmente a competência para estabelecer novas formas de organizar trabalho, pessoas, novos conceitos e práticas de gestão empresarial.
Igreja reintera que este é um subestimado e preocupante desafio para o Brasil. “Em um mundo de indústria 4.0, inovação disruptiva e tecnologias exponenciais, somos ainda mais coadjuvantes. A tempestade perfeita reside no fato de que não há protecionismo que será capaz de impedir a chegada destas transformações disruptivas e estamos cada vez menos preparados. Fortes reações, como dos taxistas que hoje parecem casos isolados, podem se tornar cotidianas para massas que se preparam para um mercado de trabalho que simplesmente ficou no passado. Por outro lado, a esperança reside nas startups e nos jovens que superam esses desafios, conectando-se à outras realidades, fugindo do isolamento do Brasil, em contato com o mundo em busca de conhecimento e tecnologia. Com frequência somos surpreendidos por estes casos que desafiam prognósticos”.
Perfil em alta
De acordo com Sônia, as principais competências profissionais que têm sido recorrentemente citadas são: “visão sistêmica e raciocínio lógico para interpretações, análises e correlações abrangentes para soluções de problemas e elaboração de propostas; inovação para promover rupturas, novas formas de atuar, novos comportamentos; capacidade para aceitar, acolher e potencializar a diversidade no seu sentido mais amplo; trabalhar de forma colaborativa; relacionamento interpessoal e comunicação assertiva para sustentar pontos de vista e propostas; capacidade de aprender continuamente, desaprender e reaprender; autogestão e equilíbrio e discernimento para conseguir fazer a gestão da qualidade e quantidade do tempo.”
Fonte: http://chro.4ntw.com/materias/view/codigomateria/3263