A ergonomia teve sua existência a partir de 23/09/1990 surgindo como a NR-17 (Norma Regulamentadora). Após vários estudos pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) podemos afirmar que ela vai além da prevenção para LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho). A relação entre as transformações tecnológicas e o ser humano pode ser catastrófica caso não haja uma correta análise entre os fatores humanos e as novas projeções do trabalho. De acordo com o especialista, os limites psicofísicos humanos não são bem conhecidos por quem elabora os projetos. “Não se trata de culpar, mas de compreender que os engenheiros e projetistas conhecem muito pouco do ser humano, assim como quem conhece o ser humano desconhece a engenharia e os projetos. Os detalhes vão desde um simples cabo de um utensilio doméstico até a postura com que o trabalho é executado, pois, se essas evoluções trazem eficiência e praticidade às nossas vidas, em contrapartida não nos livra de uma série de malefícios, e o desafio dos ergonomistas é corrigir ou minimizar esses males. O trabalho precisa ser fácil, ser leve, ser rápido, ter um objetivo e ser prazeroso. Mas com força, esforço e posturas inadequadas, os trabalhadores entram em fadiga e quando existe fadiga não há velocidade. Projetos mal concebidos podem gerar: acidentes, má qualidade, pouca produtividade, doenças, erros humanos, absenteísmo, pausas furtivas, estresse, carga mental do trabalho e transtornos relacionais. Sendo assim, os problemas de concepção ultrapassam a questão das tendinites, ou seja, não se resumem ao campo biomecânico.
A ergonomia no Brasil, antes vista por muitas empresas como uma simples análise para definir onde colocar apoio de punhos, suporte para os pés, entre outros, e , assim, evitar as LER/DORT e demais desconfortos gerados no ambiente de trabalho é muito mais ampla. Outros fatores ganharam relevância na percepção do desconforto, como o estresse, pressão pscicológica e o ambiente de trabalho. Ela está presente em tudo à nossa volta, seja numa embalagem de produto mais fácil de ser manuseada, seja num formato de sabonete que não escorrega facilmente, nas tarefas diárias das donas de casa, no trabalho no campo, nos cabos de ferramentas e talheres, no trabalho sentado, semissentado ou em pé. Hoje as empresas ainda investem muito pouco nos treinamentos em ergonomia, pois acreditam que a AET (Análise Ergonômica do Trabalho) possa dar respostas às demandas existentes (queixas de dores, absenteísmo, acidentes, erro humano etc), apesar dos treinamentos melhorarem muito a compreensão sobre questões complexas, inclusive, em relação à linguagem empregada nas AETs. Outra questão destacada é o eSocial (projeto do Governo Federal que vai unificar o envio de informações pelo empregador em relação aos seus empregados), pois as empresas terão de tornar público suas demandas econômicas. Atualmente as grandes empresas solicitam AETs, mas, a partir da efetivação do eSocial, as pequenas e médias também terão de investigar as demandas ergonômicas, e 98% das empresas são de pequeno ou médio porte. As avaliações ergonômicas ainda necessitam de correções físicas nos postos de trabalho com a utilização de equipamentos com critérios ergonômicos como apoio para os pés, suporte para ajuste do monitor, apoio para os braços e punhos, e a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) possui normas para o mobiliário e sistemas com critérios ergonômicos a fim de orientar os usuários e interessados no assunto para a aquisição desses produtos. Há uma grande oferta de produtos com critérios ergonômicos acessíveis para todos os tipos de empresas. Na agricultura, com ferramentas que facilitam o posicionamento durante o manuseio, causando menos esforço para o trabalhador, equipamentos pneumáticos e hidráulicos, que facilitam o deslocamento de materiais, softwares com programas inteligentes exigindo menor desgaste mental, robótica que pode substituir trabalhos excessivamente pesados, armazenagem de produtos automatizados, tapetes antifadiga, entre muitos outros. Está comprovado que o uso de produtos ergonômicos adequados reduz substancialmente as doenças ocupacionais. Mas é o estudo ergonômico do posto de trabalho que produzirá as informações necessárias para detectar qual produto ou solução é mais apropriada, e exemplifica: “o notebook se tornou uma ferramenta de uso constante nas empresas. Se atentarmos a NR-17 (17.4.3), o uso dessa tecnologia seria proibitivo. Entretanto, se adaptarmos um suporte para elevar a tela, conectar um mouse e teclado convencional, a utilização desse equipamento se torna viável e ergonomicamente correta. Outro produto que se tornou obrigatório nos postos de trabalho (anexo I NR-17) são os apoios para pés, pois melhoram a circulação sanguínea, reduzem o inchaço nas pernas, ajudando a evitar varizes. Nas fábricas as maiores demandas são para os bancos semissentados e os tapetes ergonômicos, enquanto que, na área rural, as máquinas e os tratores já contam com comandos e assentos ergonômicos. Nos ambientes de escritório a variação é menor, uma vez que a maioria das atividades se assemelha, mas, existem diferenças, por exemplo, a cadeira indicada a um gerente, que divide suas atividades entre analisar documentos e reuniões, é diferente da indicada para um colaborador, que fica a maior parte do tempo digitando. No ambiente fabril, as adaptações são maiores e só um ergonomista pode indicar as melhores soluções, pois a atividade e a postura podem variar conforme a máquina. Na área industrial oferece uma série de dispositivos como: dispositivos para levantamento de cargas a vácuo, mesas elevatórias, monovias e talhas de fácil acionamento, pantógrafos e redutos de peso, luvas antivibratórias, parafusadeiras autotravantes.
Segundo pesquisa, mais de 60% dos relatos de doenças ocupacionais, que são relacionados aos distúrbios osteomusculares e diagnósticos específicos como a compressão do nervo localizado ( síndrome do túnel carpal), tendinite (epicondilite e tendinite de Quervain), tensão muscular e síndromes de dor regional, têm sido associados ao trabalho em todos os setores da economia. Força de repetição, posturas estáticas, vibração, velocidade do trabalho e tarefas restritas são riscos ocupacionais que podem contribuir para o desenvolvimento dessas doenças.
A NR-17 preconiza que todo o empregador deve adequar o ambiente às características psicofisiológicas do empregado, segundo suas atividades. Seguindo essa premissa, temos cuidados com mobiliário, equipamentos ou produtos ergonômicos, a organização das atividades, pausas para alongamento, conforto térmico, iluminação adequada, ventilação e até a decoração do ambiente deve ser levada em conta. A ergonomia deve tratar principalmente da fadiga, pois a fadiga antecede a doença, o erro humano, os acidentes, as pausas furtivas. Quando eliminarmos a fadiga tornamos o trabalho agradável e fácil. O trabalho bem planejado é naturalmente eficiente, não exige regulações ou gambiarras compensatórias. Acidentes e lesões muitas vezes são atribuídos à negligência dos trabalhadores e classificados como falhas humanas. Denise Chiaradia ressalta que grande parte desas ocorrências não está ligada à negligência e sim a projetos inadequados de máquinas, equipamentos e sistemas, além da falta de treinamentos dos trabalhadores e gestão deficiente, e a ergonomia, durante décadas, vem adquirindo conhecimentos significativos para melhorar as condições de trabalho humano.
Susana Coser
Técnica em Segurança do Trabalho